A dona de casa Márcia Gonçalves Coelho, de 21 anos, perdeu o filho de apenas 2 dias de vida sem ao menos ter tido a chance de conhecê-lo. O recém-nascido morreu depois de um suposto erro médico durante o parto, no Centro de Especialidades e Pronto Atendimento de Vila Rica (a 1,2 mil quilômetros de Cuiabá).
A jovem diz que foi forçada a tentar um parto natural, mesmo após os exames de rotina mostrarem que o bebê ainda estava sentado. Depois de muito tentar, ela foi submetida às pressas a uma cesariana, onde teve seus órgãos perfurados e consequentemente uma hemorragia.
Ela foi internada na unidade no dia 29 de junho para ganhar a criança, e no dia 1 de julho recebeu a notícia de que ele havia morrido por falta de oxigenação no cérebro.
Após o parto e em decorrência da hemorragia, Márcia precisou ser transferida ao Hospital Municipal de Confresa. Lá ela permaneceu por 6 horas na sala de cirurgia até todas as perfurações serem suturadas.
A jovem teve a bexiga cortada em quatro diferentes lugares, além do útero.
“O médico que reabriu e a operou de novo conseguiu costurar a bexiga e onde tinham feito estrago. Os médicos de Confresa salvaram ela!”, relata a camareira Claudineia Coelho, de 40 anos, mãe da jovem.
Márcia segue internada na unidade em Confresa e se recupera bem das lesões. No entanto, a perda do filho e os momentos traumáticos que passou no Hospital de Vila serão difíceis de esquecer.
“Pra mim foi um susto muito grande, foi uma gravidez tranquila e no final aconteceu isso tudo. A perda é uma dor muito grande e eu praticamente nasci de novo. Até superar isso tudo vai ser complicado”, desabafa a jovem.
Forçada a tentar
Claudineia conta que esse foi o segundo parto da filha, que já tem uma menina de 5 anos. Na primeira internação os médicos também tentaram realizar o parto de forma natural, mas precisaram recorrer à cesárea.
Dessa vez, durante exames de rotina o médico alertou para a impossibilidade de um parto normal, pois a criança ainda estava sentada na barriga da mãe.
Mesmo contando a situação às enfermeiras, segundo Claudineia, uma delas sorriu e se virou para pegar uma injeção que induziria o parto da filha.
A dor da jovem foi aumentando e depois de um tempo ela foi levada para a sala de parto.
“Lá eles tentaram fazer o parto normal. Fez pique, cortaram ela e o médico até subiu na barriga forçando pro bebê descer e eu escutando só os gritos dela lá fora”.
Marcia conta que de um lado era o médico fazendo pressão e do outro uma enfermeira. “Eu gritava: Sai de cima que tá me machucando”.
Claudineia, presenciou a correria dos médicos e enfermeiros por cerca de 3 horas, até que abordou uma das profissionais e perguntou o que estava acontecendo.
“E ela me falou: ‘Sinto muito, o médico já vêm falar com a senhora’. De lá pra cá foi só a correria, pra tentar salvar a vida do bebê, salvar a vida dela que tinha tido a hemorragia”.
O meu neto era perfeito, não tinha nada”, afirmou Claudineia ao questionar o laudo de óbito, que segundo ela constava morte por falta de oxigenação no cérebro.
Márcia diz que chegou a alertar as enfermeiras novamente quando entrou na sala de parto, antes de romperem manualmente a sua bolsa. “Não podia ter normal e o bebê podia ficar sem oxigênio. Eles forçaram tanto que o nenê ficou preso lá embaixo”.
Tanto Márcia quanto Claudineia conheceram o pequeno somente por fotos enviadas por parentes.
Durante esses dois dias a camareira tentou contato com a unidade pedindo para ele fosse também transferido para Confresa, mas não adiantou.
“Eles prendendo o nenê lá, falando que ele estava bem, até que recebemos a notícia de que tinha ido a óbito”, afirmou Claudineia.
A família registrou um boletim de ocorrência sobre o caso no mesmo dia em que a criança morreu. O exame de necropsia também foi solicitado.
A reportagem entrou em contato com a unidade que se manifestou por meio de nota. “Respeitamos o luto dos familiares e reforçamos que todas as medidas possíveis para resguardar a saúde da parturiente e do neonato foram tomadas”, diz trecho do documento